meu outro eu

Está na minha essência ser uma pessoa atrapalhada e esquecida. Do tipo que deixa a chave de casa dentro da geladeira, esquece o carro no shopping e volta a pé pra casa, joga a bala no lixo e come o papel. Eu me lembro de um Uno verde que eu tinha quando trabalhava na Jimenez. A gente parava o carro no jardim da casa, era verão e todo tarde caia uma tempestade. O pessoal já dava risada ao me ver passar correndo de repente pela agência e sair na chuva pra fechar o vidro do carro. Tinha dia que eu não conseguia voltar sentada no banco de tão encharcado que ele estava. Passei o verão inteiro sem conseguir me lembrar de fechar o vidro, depois de estacionar o carro. Tem coisas que são tão absurdas, que se não tivesse testemunhas eu juraria que não tinha feito. Eu tinha uns 18 anos e estava sentada na minha cama só de calcinha lendo uma revista. Minha mãe, atendeu o interfone já deixou a porta de casa aberta e me avisou que a Salô (minha melhor amiga na época) estava subindo. É claro que eu nem me toquei que estava sem roupa e não teria sido uma situação tão ridícula se o marido dela não tivesse entrado junto. Eu gritando e correndo pelada pro armário a Salô e o Marcelo gritando e correndo pra sala e minha mãe preferiu nem ver o que eu tinha feito dessa vez. Pois é, mas a gente aprende coisas nessa vida e hoje sei que se não for absolutamente metódica e organizada, minha vida não funciona. Anoto tudo o que tenho que fazer, uso agenda, alarme, post it, calendário, bilhetinho, e um dia eu conseguirei realizar meu sonho de consumo que é ter uma secretária só pra mim que vai resolver todos os meus problemas.